Ela era dada a pensar no que a movia. «Alguma coisa», segundo ela, «impede-me de avançar.». Presa que estava num tempo que já não havia, a uma pessoa que se tinha ido embora, como se a vida fosse um fio que se apanhava quando se nascia, como uma linha que ninguém compreende num mapa que ninguém quer, dedicada a seguir uma direcção que era imprópria, mas que lhe tinha sido destinada.
«Não penses muitos», diziam os amigos, «pensa em nada.» Mas ela não conseguia impedir-se de pensar em nada.
E seguia como se fosse guiada. Para onde os outros não têm direcção.
- Miguel Esteves Cardoso, O Amor é Fodido, Assírio & Alvim
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